sábado, 2 de janeiro de 2016

Pela divisória do Centro Histórico

Samara, RÚSSIA 

A Rua Krasnoarmeiskaya (Красноармейская - "de Exército Vermelho") inicialmente foi chamada Peschannaya (Песчаная - "de Areia"), e entre ano 1870 e período soviético Alexeevskaya (Алексеевская). Se estica do Rio Volga na direção do terminal ferroviário, praticamente oeste-leste, e no final do século XIX dividia a cidade em duas partes equivalentes em área, mas de sorte bem diferente - "centro" e "periferia".  Nas últimas décadas esta margem ganha outro sentido: o triângulo sul, entre Rua Krasnoarmeiskaya, Rio Volga e Rio Samara representa a mais antiga parte da cidade, saturada de joias arquitetônicas dos séculos passados, e a reposição das construções condenadas à demolição ocorre por lá com maior delicadeza, em busca de conservação de ambiente tradicional.  Ao norte desta rua e até a Rua Polevaya (Полевая  - "de Campo") a herança era menos valiosa, com predomínio de construções de madeira, de 1-2 andares, que não resistem tanto ao tempo. Ainda no final  do século XIX começou a transformação gradual quadra por quadra, deste setor, resultando em harmonioso crescimento vertical e em formação de novos espaços verdes de grande extensão. Alias, a Rua Polevaya ("de Campo") ganhou este nome justamente porque a cidade acabava por aí: houve casas apenas de um lado, e no outro começavam as plantações da zona rural.

Mas esse setor estará em foco de outro roteiro, agora vamos apreciar apenas esta nítida "margem dos tempos" passeando pela Rua Krasnoarmeiskaya que divide a Cidade Velha em duas partes: uma cuidadosamente conservada e outra radicalmente reformada. Começando com a praça do Terminal Ferroviário, Praça Komsomolskaya (Комсомольская площадь), localizada entre ruas Krasnoarmeiskaya (Красноармейская), L´va Tolstogo (Л. Толстого - "do Leon Tolstoi"), M. Aguibalova (М. Агибалова) e Sportivnaya (Спортивная - "Esportiva"), bem na ponta leste do triângulo histórico, a mais distante do Rio Volga.

Uma das exceções aqui é o próprio Terminal. O prédio antigo foi considerado um monumento arquitetônico intocável por várias décadas, mas já não comportava o fluxo de passageiros e nem era passível a uma reconstrução que conservaria a sua aparência. No início dos anos 2000 foi construído completamente novo, bem diferente, mas também muito atraente.



Não apenas brilhante por fora, por dentro bem espaçoso e confortável, de configuração moderna: as principais salas de espera ficam diretamente sobre plataformas de embarque. E bem visível de longe, principalmente dos trens que chegam à cidade tanto do Leste quanto do Oeste (localmente do lado Sul) - com seus mais de 100 metros de altura é o mais alto terminal ferroviário da Europa. Já o prédio antigo era contemporâneo desta locomotiva à vapor que agora virou monumento, e também tinha aparência muito harmoniosa.

O  conjunto da Praça Komsomolskaya complementam três prédios construídos na primeira metade do século XX, que agora já fazem parte de patrimônio arquitetônico, com destaque para Administração Regional do antigo Ministério de Transporte Ferroviário da URSS, atualmente uma das subsidiárias da  RZhD (Empresa Estatal Ferroviária da Rússia), responsável por 11,5 mil km da sua malha (confira no Wikipedia em espanhol):



Construído em 1925 pelo arquiteto A. Tcherbatcheff, no estilo de "postconstructivismo modernizado" A Rua Krasnoarmeiskaya passa logo atrás.



Nas duas próximas quadras da Rua Krasnoarmeiskaya, entre Rua M. Agibalova e Rua Buyanova, o seu lado direito está passando pela rápida transformação que inclui o alargamento também: nos fundos termina construção de novos e bonitos prédios de apartamentos,e logo ocorre a demolição das velhas casas de frente, abrindo espaço para novas calçadas e alamedas. 

Neta ampla faixa à direita de Krasnoarmeiskaya, com profundidade de 3-4 quadras,  nos últimos anos foi construída boa parte das melhores moradias da época pós-soviética. Os prédios são de alvenaria de alta qualidade, de altura moderada, com fachadas bem trabalhadas, e as plantas dos apartamentos também são de primeira. Podemos dar olhada nesta direção pela Rua Artsybushevskaya, no fundo dá para ver umas amostras: 



E na frente, bem na esquina, temos um prédio clássico dos meados do século 20: o famoso No.62 que ocupa quadra inteira de Artsybushevskaya aré a a Rua Irmãos Korostelyov. Este foi construído em 1946-1949 anos pelo arquiteto G. Salonikidi como um edifício residencial para oficiais de Exército. À direita dele, entre Artsybushevskaya e Buyanova há uma bela quadra verde da Praça Ilyinskaya.



Esta esquina de Krasnoarmeiskaya e Artsybushevskaya realmente é um lugar muito agradável: em frente à Praça Ilyinskaya há um outro parque aconchegante, e em frente ao No.62 - outra construção marcante da mesma época  - sede da empresa de projetos na área de exploração de petróleo "Giprovostokneft" (1946).




Na próxima quadra há mais um ziguezague da fronteira entre épocas: do lado direito, ou seja, do lado da Samara Velha em transformação radical da Rua Irmãos Korostelyov e até a Rua Lenin se estende o prédio No. 60 a ser conservado por muito tempo ainda. Este é o maior dos dois  "prédios de apartamentos do Tchelyshev", construídos em 1899 pelo arquiteto A.A. Tcherbatcheff - primeiros prédios de apartamentos de aluguel na cidade.  Inicialmente foram ocupados pelos representantes da classe média que migraram para Samara naqueles anos: professores, advogados, médicos. Depois da revolução de 1917, os prédios de apartamentos do Tchelyshev foram nacionalizados, com desdobramento de amplos apartamentos em pequenas moradias sociais.  



Em compensação há uma pequena invasão de novos tempos para teoricamente intocável lado esquerdo da Rua Krasnoarmeiskaya - um prédio moderno. Apesar do estilo retro, é bastante destoante do contexto devido à sua altura. Mas até que foi uma solução arquitetônica compreensível - no lado oposto há um grande espaço aberto em torno do novo edifício do Museu Regional. Este ainda não será mostrado aqui - haverá um conto dedicado só ao Centro Novo da Samara.

Principalmente por uma causa de força maior: duas quadras depois, a partir da esquina da Rua Galaktionovskaya, a Rua Krasnoarmeiskaya se torna borda do sul da Praça Kuibyshev - mais uma recordista europeia em Samara. Ele é tão grande que dois dos quatro parques de canto ao lado da Rua Krasnoarmeyskaya podemos olhar agora mesmo, deixando o restante para depois.




Este estende-se da Rua Galaktionovskaya quase até a Rua Molodogvardeyskaya, por outro lado ele está um pouco prensado pela ala sul do imponente edifício do Teatro de Opera e Balé.




E este, entre Rua Molodogvardeyskaya e Rua Tchapayev é bem espaçoso, portanto frequentemente cede sua área central para exposições fotográficas. No canto do parque à direita daqui há uma saída para esquina das Ruas Tchapaev e Krasnoarmeiskaya.



O edifício de cinco andares nesta esquina é um dos símbolos da zona de transição: foi construído nos últimos anos, embora no estilo "antigo". Atrás deste se esconde um prédio mais discreto, mas bem mais famoso -  "casa dos generais" de quatro andares (Rua Tchapaev, No. 180), que se estende quase até a outra esquina, ocupada pelo Clube dos Oficiais de Exército. Este prédio dos generais (onde em 1937 foi preso Marechal Tukhachevsky) é considerado como destacado exemplo do modernismo do início do século XX.

Aliás, a Rua Tchapayev é um divisor de águas: até aqui vencemos uma leve subida de afastando do rio Samara, e partir desta esquina começa a ladeira que logo acabará na orla do Rio Volga.



Estamos agora olhando pela Rua Krasnoarmeiskaya para trás, já da próxima esquina. com a Rua Frunze. O centro antigo está agora à direita, e nesta quadra domina outra amostra do "modernismo socialista" da primeira metade do século 20. No lado direito desta foto aparece um cantinho do palacete da esquina conhecido coma a "Casa da Kurlina"), também é um fruto de "modernismo", mas um pouco mais velho de 1903. Agora abriga uma filial do Museu Histórico da Província Samara, e já serviu para outras finalidades, incluindo a diplomática: em 1941-1943 aqui funcionava a Embaixada da Suécia (sim, como vários órgãos do governo da URSS, o corpo diplomático também recuou de Moscou para Samara naqueles anos).

Esta esquina das Ruas Krasnoarmeyskaya e Frunze oferece quatro boas direções  - em todas  há algo mais interessante. De acordo com o propósito do nosso roteiro atual, deixaremos para outra vez a as quadras da Rua Frunze no sentido de Centro Velho, onde estão nós esperando a Igreja Católica, o Museu de A.N. Tolstoi e a Filarmônica.



Esta é a vista pela Rua Krasnoarmeyskaya mais para a frente. Após a próxima quadra, ou seja, da Rua Kuibyshev, a descida para rio Volga é tão acentuada que começa valer o termo "ladeira". Lá à direita começa o mais antigo dos parques da cidade, Jardim Strukovsky, e a divisória entre as partes conservada e reformada do Centro vira aqui para direita pela Rua Frunze - para mosteiro Iverskiy e antiga cervejaria. O que é perfeitamente lógico: nas margens do Rio Volga a urbanização bem consolidada avançou mais longe ainda antes do início do século XX.



Só nestas duas últimas quadras da Rua Frunze, ao norte de Krasnoarmeyskaya,  não há trilhos de bonde no seu eixo central. Este pedaço é muito verde e aconchegante, maioria dos edifícios do lado do Rio Volga (nesta imagem à direita), foi construída antes de século XX, e do lado oposto bem no seu início.

E na esquina da Rua Frunze com curta Rua Shostakovich começa pequena Praça Tchapaev, com monumento do próprio Tchapaev no seu centro, e com fachada do Teatro de Drama nos fundos.



Monumento dedicado ao comandante de uma Divisão do Exército Vermelho nos tempos de Guerra Civil Vasily Tchapaev e aos seus combatentes inclui várias figuras típicas da época. Sua altura chega a 10 m, largura total 17 m e comprimento 22 metros. Foi criado em 1932 e é considerado como um dos melhores exemplos da arte monumental desta década.



Atrás do monumento começa uma encosta íngreme: lá entre a Praça Tchapaev e o Jardim Strukovsky se encaixa a ladeira da Rua Kuibyshev - na direção no início da Avenida Volga e da cervejaria. Na esquina das Ruas Shostakovich e Kuibyshev, pela mão direita do V.I. Tchapaev, fica o Museu de História Militar, cujo prédio foi construído no ano 1914. O edifício vizinho à esquerda do museu é da mesma idade - mansão do Alfred von Vakano (fundador da cervejaria, antes da aquisição deste lote ele residiu nas suas instalações industriais).



Em frente ao monumento do Tchapaev há outros destaques. O edifício amarelo na esquina canto da Frunze e Shostakovich agora ocupa Academia Estadual de Cultura e Artes de Samara (antigo Instituto de Cultura), e nos tempos soviêticos era nem mais nem menos, o comitê regional do todo-poderoso Partido Comunista. A entrada para o famoso "bunker de Stalin" (agora o Museu de Defesa Civil) fica escondida no seu pátio verde, um pouco à direita da passagem entre dois prédios, e o ponto de comando em situações emergenciais foi construído na profundidade de 37 metros, por baixo das sob fundações deste prédio amarelo.


Já o edifício do Teatro de Drama não se esconde, pelo contrário, foi criado para chamar a atenção. Construído aqui no ano 1888 pelo projeto do arquiteto M.N. Tchitchagov, em estilo pseudo-russo. Inicialmente, foi apelidado como "teremok" ou "casa de pão de mel", mas décadas foi reconhecido não só como principal atração nesta área, mas também como um dos edifícios mais notáveis da cidade.

Na parte de trás do Teatro Drama há um pequeno e aconchegante Parque Pushkin, de onde se abrem boas vistas não só para Jardim Strukovsky e Cervejaria Von Vakano, mas também para Rio Volga e para florestas na sua margem oposta.



Mas agora há também uma outra maravilha: vista para complexo do recém-reinaugurado Mosteiro Iverskiy (fundada em 1860, destruído em 1930, reconstruído desde 1992).



Com destaque para a torre do sino, reconstruído em 2012-2013.

E todo este agradável pedaço fica apenas a uma quadra da Praça Kuibyshev.


Olhando do canto da Praça Pushkin pela rua Vilonovskaya ladeira para cima, podemos ver dois prédios altos de cor branca. O maior e mais distante é de construção recente, já o mais próximo, conhecido como "Casa dos Arquitetos", marca um dos cantos da maior praça urbana da Europa. Mas este jé é o tema de outro roteiro, que será dedicado ao "Centro Novo" de Samara...

Em anexo ofereço álbum fotográfico deste passeio e o seu mapa


Fotos do autor
Atualizado 29.10.2018

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