terça-feira, 31 de março de 2020

Era uma vez na África...

Longa conexão em Casablanca CMN - 07.05.2017 

Algumas seções de 1-2 horas na zona internacional de um aeroporto nas ilhas de Cabo Verde (o código IATA dele é SID) não contam, portanto a nossa primeira invasão do solo africano ocorreu exatamente nesta vez. Embora antes de comprar passagens com conexão em Casablanca já cruzamos o espaço aéreo de duas dezenas de países desse continente - graças aos frequentes deslocamentos entre América do Sul e Eurásia. Aquela viagem urgente de 2017 poderia rolar como outras, mas entrou no jogo a promoção da Royal Air Maroc que acabou de expandir a sua malha aérea para América do Sul, começando com São Paulo GRU. O lado verso do preço atraente foi o tempo de espera entre voos: 13 h na ida e 3,5 h na volta. Mas observando que foram 13 h na ida (contra Sol) e de dia isso se tornou uma vantagem também. e outro aspecto importante também pesava a favor: com mesma soma de tempo de voos, o balanceamento com conexão em Casablanca é melhor entre todas as opções existentes: 9+6 h. E com dois voos noturnos chegaremos em Moscou no bom horário de manhã. Então, decidimos testar este caminho. Já durante as preparações de viagem o grupo aumento até 4 pessoas, incluindo 3 mulheres, portanto o passeio africano entre dois voos exigia certos cuidados.

Esta aventura contava com apoio de inteligência local: um dos meus colegas daqueles tempos era não apenas natural de Casablanca mas também frequentador assíduo desta cidade. O importantíssimo parâmetro de quantia de dinheiro a trocar na chegada ele calculou para nós com alta precisão. Vetou com autoridade o uso de táxi entre cidade e aeroporto: longe, caro, trânsito complicado: então contar só com trem. Já dentro do centro os baratos táxis vermelhos foram recomendados para trajetos locais. Com base em informações obtidas desta e das outras fontes confiáveis definimos a nossa estratégia para Casablanca - um roteiro circular a partir do terminal ferroviário Casa Port: Medina (Cidade Velha) - mesquita principal - bairros novos - terminal.

Deu tudo certo e foi bastante exótico e muito divertido, mas usei a câmara fotográfica apenas em alguns pontos estratégicos. No resto tentamos uma imersão discreta no ambiente local, para sentir e memorizar melhor esta experiência única, mas algumas paisagens urbanas marcantes foram registradas:



O início desta investida a partir do Aeroporto Internacional Muhammad V (CMN) foi um pouco frustrante. Começando com longas e lentas filas no controle de passaporte e no controle de mais alguma coisa. Depois o processo de compra de passagem de trem, um tanto confuso. O horário é simples: partidas a cada hora redonda, tempo de viagem 45 minutos. Assim dois trens circulam na contra-mão e têm 15 minutos para operações de desembarque e embarque antes de retorno, já as paradas intermediárias cabem dentro daqueles 45 minutos.

Chegamos à plataforma uns 25 minutos antes de partida, mas o trem que deveria chegar em 10 minutos já espera, que surpresa! Chegou da cidade para aeroporto em meia hora? Entramos rapidinho para não perder a viagem em caso de antecipação da partida. Mas meia hora depois ficou claro que não houve nem aceleração da chegada nem antecipação da partida: o trem estava parado do mesmo jeito depois das 13:00. Passando mais 5 minutos, 10, 15 minutos... De repente, quando ninguém já esperava, as portas fecharam e o trem começou a andar - por volta das 13:35. Em 50 minutos chegamos até a estação final, portanto 35+5 = 40 minutos de perda adicional no início do nosso passeio, alem do tempo normal de espera.



Mas foi nada de trágico, apenas um sinal para não esticar demais a permanência na cidade. O trem foi bastante limpo e confortável, a lotação moderada, e as vistas pela janela cada vez mais informativas e cativantes.  De acordo com instruções do nosso residentе,  não desembarcamos junto com a maioria no terminal principal Gare de Casablanca Voyageurs сom suas plataformas de baldeação, e chegamos até o nosso ponto final - terminal Casa Port de acesso unilateral.

Como promete o seu nome, este terminal está separado do Oceano Atlântico pelas instalações portuárias e pelo seu alto muro.



O porto de Casablanca é grande e se estica na direção leste por vários quilômetros daqui, mas no sentido noroeste acaba no raio um pouco mais de 1 km. Depois há alguns prédios residenciais bem na orla que ocupam o quilômetro seguinte, terminando na praça do nosso alvo principal - Grande Mesquita do Rei Hassan II.

Então já estamos seguindo este muro diretor, observando do lado esquerdo da avenida as faces da Cidade Velha, ou Medina (que pode ser entendido em outros sentidos também, inclusive com zona comercial no estilo retrô).



Não parece muito acolhedor, mas nem temos interesse em entrar nestes becos.



Mesmo quando aparecem portões abertos com brancura das ruas simpáticas atrás, estamos seguindo o nosso curso principal, sem desvio.



E não temos intenção de atacar esta fortaleza medieval, mesmo se ela servir como museu: justo aqui a avenida que contorna o porto solta um ramal mais reto que promete acesso curto à Grande Mesquita.



Assim ficou fácil, e já estamos nesta praça monumental. É um espaço muito amplo, provavelmente criado para grandes eventos públicos. Bem como extensão de espaço interno da mesquita que cabe uns 25 mil: por aqui há lugar para pelo menos três vezes a mais.

A nossa tentativa de contornar esta maravilha arquitetônica do lado de oceano fracassou. Quando começamos subir a rampa junto com  uma pequena multidão dos populares, lá em frente apareceu um guarda e fez sinais ameaçadores com sua lança sem ponta. O povo deu ré no sentido da praça e nós arrastou para lá, nem tentamos fotografar as vistas interessantes deste pedaço da orla. Então, vamos contornar por outro lado, até um novo ponto de contato visual com Atlântico.



A mesquita é simplesmente grandiosa.



E na dimensão vertical também, o minarete só de longe parece esbelto, de perto a percepção é de uma torre larga, portanto a altura deve ser enorme... Isso mesmo, as fontes informam que chega a 210 metros - por hora é a mais alta construção religiosa no mundo.



E em área só perde para Mesquita de Meca. Provavelmente, em perímetro também, e agora estamos admirando este perímetro em suas detalhes de acabamento.



Tudo é muito caprichado, não tenho certeza de que existe algo comparável. A monarquia de Marrocos começou a materialização deste projeto no ano 1986 e só terminou em 1993, aparentemente gastando aqui boa parte do seu orçamento neste período.



Pelo que entendo em mesquitas, lá em baixo deve ser um grande lavatório para pés.



Como não temos pretensões de entrar descalços neste local de culto, estamos seguindo o contorno externo da Grande Mesquita. Esta linha é cheia de cantos, e um deles esconde local mais lotado de gente:



O público se posicionou na sombra e parece que está aguardando algo. Talvez, a abertura dos portões?



O que importa é que todos sejam felizes.



E a nossa felicidade de hoje é curtir esta movimentação bem de dentro, apreciando as belezas de Casablanca em vez de contar horas no seu meio apertado aeroporto.

Como era de esperar, a lado oeste da Grande Mesquita nó guia até a orla do oceano Atlântico.



Portanto, apesar de sol escaldante vale a pena se desgrudar das sombras desta construção e chegar até o lado oposto da praça lateral.



A orla central da Casablanca. Aqui começa o setor francês da "Cidade Branca", e a sua aparência realmente é mais europeia. 

Mais adiante a altura dos prédios diminui e há outros minaretes, mas e importância mais local. я.



Já a torre mais alta à direita tem outra função, é a farol El-Hank construído em 1916, com 51 m de altura. Atrás da sua pequena península a cidade se estica pela cosa na direção sudeste por vários quilômetros, mas esta parte escapa da nossa visão. Ainda pode ser visitada se usarmos um táxi.



Há muita oferta deste serviço em carros vermelhos, mas a minha proposta de testá-lo não recebeu nenhum voto de apoio: já sentimos bastante fome e procurar um bom lugar para almoço estava na pauta.  Resolvemos começar esta busca andando em órbita circular com relação ao terminal Casa Port, sem se afastar ainda mais deste ponto estratégico.



Estamos nós despedindo deste farol que ajuda tanto na navegação pedestre pelo centro de Casablanca.



Agora vamos penetrar neste bairro desconhecido, com câmara recolhida na mochila e com atenção redobrada.

Loo descobrimos que bairro é bastante aconchegante, até amigável, bem do tipo do sul da Europa. Apareceram vários pequenos restaurantes, e sem dificuldades definimos um que parece de nosso gosto. Com listinha do nosso amigo marroquino na mão, escolhemos para nossa degustação os seus pratos preferidos. Comemos muito bem, compramos mais algumas garrafas de água mineral, descansamos um pouco, e voltamos à nossa órbita.

Depois desta programação obrigatória, o passeio livre foi do jeito mais aleatório: a curiosidade levava aos desvios, e a intuição e o mapa no smartfone ajudaram voltar para rota do terminal de trens. Atravessamos algumas quarteirões de feira de rua, cheios de frutas, legumes e verduras - nada de exótico. Depois andamos pela avenida comercial com calçadas cobertas - apenas andar térreo dos prédios (quase integralmente ocupado por lojas e serviços) tinha recuo e outras estavam parcialmente apoiados em em pilares, uma verdadeira galeria. Na outra avenida observamos uma curiosa manifestação das pessoas vestidas de jalecos brancos andando pela pista central, e muitas outras coisas estranhas... Contemplamos a vida desta grande e um tanto confusa para nossa percepção cidade com tranquilidade e fascínio, completamente esquecendo da máquina fotográfica que descansava no mochila, bem como das funções fotográficos de telefones.

Lembramos desses equipamentos ao adentrar na borda sul daquela Medina, mas só para deixá-los mais escondidos. Mas logo na nossa frente apareceu o terminal de trens e nesta hora sentimos vontade de registram mais algumas imagens.



Aqui está a fachada do terminal ferroviário com nome portuário, e o próprio porto atrás dele.

Agora virando para Avenida que nós levou até aqui:



 E para outra, que acabamos de atravessar:



Justo daqui começamos a nossa grande volta pedestre pela cidade, mas no sentido oposto.

Voltamos com meia hora de folga, portanto deu tempo não só para comprar passagens, mas também para gastar o restinho do dinheiro marroquino com famosos doces. E para curtir um pouco mais o ambiente deste templo de transporte público.



Relembrando a nossa trajetória pelas ruas de Casablanca: ficou mais ou menos assim:



E este setor é bem pequeno na escala do mapa da cidade toda, e ainda menor em comparação com o trajeto de trem. que também faz parte desta excursão improvisada.



Finalmente chegou o nosso esperado "trem-bala", sem o qual seria difícil vencer os 25 km restantes até aeroporto:



Chegaremos com ele ao  Aeroporto Internacional Muhammad V já depois do pôr do sol, para sofrer mais algumas horas de tradicional demora marroquina nos controles de fronteira, de segurança na entrada ao saguão e de segurança redobrada no embarque.

Ao decolar depois de meia noite no horário local já quase caímos no sono de tanto cansaço, mais ainda merecemos um brinde o jantar foi servido com bons vinhos locais cuja existência nós nem percebemos na cidade...

Um comentário:

  1. Caro amigo!
    Viagei confortável, porém deslumbrada com suas formidáveis narrativas sobre essa excursão improvisada como você mesmo se referiu a esse incrível e rápido passeio.
    Muitas vezes nesses improvisos descobrimos maravilhas, talvez nesse caso nosso nível de expectativa seja menor e acabamos nos divertindo mais.
    Viajar na minha visão, é com certeza uma das coisas mais gratificantes que podemos realizar e parafraseando minha amigaEkaterina, quando viajamos ficamos mais bonitos por dentro.
    Acho que ela traduziu bem, o que sinto quando me aventuro em uma viagem.
    Descobri que desde muito jovem, já alimentava essa ideia, que viajar é realmente um dos melhores e mais sadios prazeres que o ser humano pode obter.
    Parabéns pela iniciativa e continue nos estimulando a viajar através de seus interessantes relatos.
    Um abraço
    Lia

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