domingo, 14 de julho de 2013

Conhecendo o Plano Piloto


Por que não tentarmos entender mais de perto esta capital tão fora de comum, muito menos apreciada pelos brasileiros do que a própria Buenos Aires? Depois de ver a Planta Piloto pela janela de avião, e visitar os destaques da sua arquitetura, em especial o Memorial JK e os Espaços Lúcio Costa e Óscar Niemeyer, pode surgir a coragem para tal tentativa.

Assim, tomamos o conhecimento de que o plano de instalar a capital é bem antigo, os portugueses começaram a articular um projeto de instalação de capital no interior do território ainda nos meados do século XVIII. Desde a primeira constituição da República, de 1891, este já contava com reserva de terras mais apropriadas, no Planalto Central, mais ou menos equidistante dos centros principais mais antigos (todos fundados no Litoral, ou próximo).

Mas desenvolvimento de projeto executivo e começo das obras foram adiados e adiados, e assim por décadas, até o ano 1955, quando em um dos comícios eleitorais um dos candidatos foi perguntado sobre viabilidade destes sonhos. O carismático e cheio de energia Juscelino Kubitschek (1902-1976) comprou na hora esta bandeira que se tornou um dos pontos chave do seu Plano de Metas para próximos anos. Este Plano em geral era mais estratégico ainda, para décadas, e tinha dois vetores principais: a integração mais rápida do país, que surgiu no lugar das capitanias coloniais bastante isoladas; e a auto-suficiência e sustentabilidade, inclusive no setor de petróleo e energia. Deve ser notado, que foi mais ou menos seguido também por todos os governos posteriores, e dá resultados importantes até hoje.

Mas a cidade de Brasília foi criada já no próximo mandado do próprio JK, e entre várias plantas propostas por arquitetos foi escolhida a mais ousada, que se tornou tão famosa - em forma de aeronave. Os primeiros prédios administrativos, do Poder Executivo, começaram a funcionar já em 1958, e em 1960 houve a inauguração oficial da nova capital.

A Planta Piloto é contornada de dois lados pelo Lago Paranoá, uma represa projetada com múltiplas funções. As mansões da elite se escondem nas suas margens verdes, em especial das duas penínsulas: a do norte tem formato da grande península italiana ("bota alta"), e a do sul é explicitamente chamada Península dos Ministros. Realmente, esta planta é muito bonita no mapa e quando é vista pela janela de avião. Mas a interpretação aeronáutica não é exata, as asas residenciais são muito largas para uma "fuselagem" administrativa tão fina. Talvez, parece mais com arco e flecha, mas também não perfeitamente.

Assim ela se apresenta na imagem de satélite:



Pode ser entendida também como foto de uma ave com penas arrepiadas, mas neste caso já com enflechamento negativo das asas. Mas assim principais prédios administrativos ficam na traseira e não na cabine de comando ou na cabeça, então, o esquema de cidade-avião seria mais elegante, tomaremos como base.

Na parde central da fuselagem, bem entre asas, fica o terminal de ônibus urbano e suburbano.





Por baixe deste se esconde a estação Central de metro, apesar de nome ela representa ponto final do atual sistema composto de duas linhas.

Por volta deste lugar ficam três dos maiores shopping centers da capital, torres dos maiores bancos e outros escritórios suntuosos, e as partes adjacentes das asas concentram hotéis, das categorias mais caras.



A plataforma panorâmica da torre de TV, com altura de 75 metros (a torre tem 224 no total), oferece boa visão deste pedaço. Para subida precisa encarar uma fila de elevador, a opção de escada não existe.



Ao lado da torre podemos ver a famosa Fonte Luminosa, de dimensões impressionantes.



À esquerda está a Asa Norte.



À direita - Asa Sul,



com aeroporto nos seus fundos.



Agora a vista na direção da "cabine de comando" - Praça de Três Poderes. No primeiro plano há destaques da coroa de Catedral (dir.) e da pirâmide de Teatro Nacional (esq.). O caminho para "cabine" é indicado por duas fileiras de prédios ministeriais, todos parecem iguais. E o inconfundível prédio de Congresso, com seus dois semi-discos, ajuda a localizar dois outros ramos poderosos - Palácios de Presidente e de Supremo Tribunal de Justiça. Mas a península central não termina por ali, na frente da "cabine" cabe ainda grande grandes espaços verdes, com residências oficiais, centros culturais e outros atrativos. Um pouco à direita do eixo central pode ser vista a elegante ponte JK, um dois enfeites mais recentes da Brasília.

Falando em eixos, a "fuselagem" também frequentemente é chamada assim, ainda com adjetivo Monumental. Realmente, seus espaços são monumentais, muitos prédios também, e o sistema viário não fica devendo: 6 faixas para cada direção,



e mais potentes Avenidas Marginais Sul e Norte.

Na direção da "empenagem" chama atenção o prédio co Complexo de Convenções Ulysses Guimarães.



Mais distante podemos ver a Praça Buriti, com prédios administrativos do distrito Federal, Memorial de Povos Indígenos e Memorial Juscelino Kubitschek. A redonda Praça do Cruzeiro no fundo do último representa o ponto mais alto da cidade, 1172 m.

Mais longe, já no trevo da rodovia BR-450 (ligação de BR-040 e BR-020) que contorna a cidade pelo lado oeste, pode ser visto o Terminal Rodo-Ferroviário. Este elemento do sistema de transportes não deu muito certo na posição axial: seu componente ferroviário perdeu utilidade por completo, mas o rodoviário cresceu e precisou de mais espaço e de boa integração com transporte urbano. Isto foi resolvido só com construção da Rodoviária Nova, próximo à ponta da Asa Sul, por onde passam duas linhas de metro entre centro e subúrbios.

O plano inicial, que previa aumento moderado da população, até uns 600 mil para ano 2000, não contava com maior parte desses subúrbios, que surgiram no lugar dos bairros temporários de construtores da Planta Piloto e cresceram muito rápido. Enfim este processo foi controlado, limites administrativos da capital expandidos e a estratégia de desenvolvimento da infraestrutura de transportes adaptada às novas realidades. Atualmente há quase 2,5 milhões de habitantes no Distrito Federal, mas a área metropolitana inclui ainda alguns municípios do estado de Goias e soma mais de 3 milhões.

Deve ser notado, que a cidade-avião é bem encaixado no sistema rodoviário nacional. A própria escolha do local foi definida pelo traçado mais curto dos caminhões norte - sul, alternativos ao arco do litoral. Portanto, a rodovia principal BR-020 segue nesta direção contorna a cidade pelo oeste.



Nas pontas das asas há ramificação, e o braço leste auxiliar, chamado DF-002, atravessa a cidade toda, sem qualquer obstaculo ou cruzamento em nível.



A chave central deste eficiente esquema viário é este trevo de DF-002 e Eixo Monumental, não muito vistoso, mas perfeitamente funcional.

O leque das rodovias federais abre ao norte e ao sul das pontas de asa, mas a densidade na parte norte do Brasil ainda é muito menor.

Finalizando esta reportagem com vista pela janela de avião. bem alinhado com o Eixo Monumental.



A Asa Norte se estica para direita, Asa Sul - para esquerda. No próprio Eixo podem ser destacados os prédios de congresso e de Centro de Convenções. E a ponte JK quase se esconde entre nuvens, no primeiro plano à esquerda.

Fotos do autor.
Atualizado: 03.12.2018


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