quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Europa extremamente Oriental

Oral (ou Uralsk, mais exatamente Ural'sk), Cazaquistão - 1 dia em julho de 2015

Esta cidade no rio do mesmo nome Ural (Oral) que delimita Europa e Ásia foi bastante visível na história do Império Russo, mais em contexto da rebelião dos cossacos sob comando de Emelian Pugachov na região dos Urais e do Volga em 1773-1774. Os cossacos (agricultores armados) começaram a explorar esta região no final de século XVI, e no ano 1584 (dois anos antes de fundação da fortaleza imperial de Samara no rio Volga) já fixaram um povoado nas margens do rio Ural. Em 1591 elem juraram fidelidade ao império, e receberam autonomia total para proteger esta região fronteiriça, que perdurou até os tempos do Pedro Grande. Em 1613 o primeiro povoado foi destruído durante um ataque dos nômades, e logo os cossacos construíram uma fortificação mais consistente 50 km rio abaixo, e assim começou a cidade atual. Cuja população cresceu moderadamente - até 230 mil habitantes, aproximadamente um milhão a menos do que em Samara.

Mais um aspecto particular: a árvore genealógica do primeiro autor acende aos cossacos do rio Ural, e este local está apenas a 260 km da sua cidade natal - Samara, RÚSSIA. Efetivamente, nos tempos da URSS foi uma das duas capitais provinciais mais próximas à Samara, junto com a Ulianovsk, mas deixou de ser visitada por uma combinação de fatores. Esta falha foi corrigida só em 2015, devido ao interesse de um grupo de amigos aos marcos geográficos de "limite entre Europa e Ásia" e já valeu uma viagem internacional. Depois de desintegração da URSS a cidade com maioria de população russa ficou no novo e interessante país chamado Cazaquistão - muito extenso, e na parte étnico-cultural claramente transitório entre a própria Rússia e a Ásia Central. 

Foi uma expedição bate-volta de domingo, no carro dos nossos amigos, e muito bem sucedida - sem dificuldades encontramos todos 4 alvos principais: rio, marco Europa-Ásia, Catedral de Cristo Salvador, e o mercado centrаl com sua abundância de frutas, batata e peixe.



De fato, o rio que aparece nesta colagem não é Ural, e a sua afluente europeia Tchagan,  mas paramos nas margens do Ural também, e avistamos оs estepes asiáticas. Mas não pisamos lá nesta vez^a cidade toda fica na Europa, menos aeroporto que foi desnecessário na nossa viagem. 

Alem desta programação básica realizamos uma série de opcionais, e deixamos boa porção de tempo para improvisos, portanto retornamos bem tarde, levando melancias, melões, e muitas boas impressões. Vale a pena relembrar alguns passos por lá... 

Formalmente, a Província de Samara também tem um ponto de fronteira com Cazaquistão que pode ser viso nos mapas. Mas na escala real este ponto não é muito maior do que nos mapas,  e por lá não passa estrada nenhuma: portanto a rodovia Samara - Ural'sk corta um pedacinho da Província de Orenburgo, onde fica o ponto de fronteira com alfândega e controle migratório. Um pouco antes deste paramos para nosso café de manhã, já na segunda metade de caminho de ida. E logo depois já avistamos algumas construções e concentração de veículos: deve ser a fronteira! 



Entramos na fila de veículos, não muito longa, mas preocupante: nenhuma movimentação nos primeiros minutos, bem como na fila no sentido contrário. Logo apareceu a explicação: um ônibus da linha regular Uralsk - Samara: todos serviços de migração estavam tratando dos seus passageiros. Depois disso, a fila de Cazaquistão para Rússia andou bem, mas a nossa ainda não se animou por mais meia hora - autêntica operação siga - pare. Alguns motoristas ficaram nervosos, houve tentativas de furar a fila e brigas por causa disso. Deu para entender que por lá há grupos de comerciantes informais que circulam pela fronteira com muita frequência. Mas o próprio controle do lado da Rússia passamos muito tranquilo.    

Agora a fronteira do Cazaquistão. O procedimento é um pouco mais complexo, mas não demorou muito. Em breve recebemos novos carimbos em passaportes, e uma nova tinta também - verde brilhante. 



Bem, agora já estamos no exterior, embora entre mesmos campos de girassóis.

Mais algumas dezenas de quilômetros de rodagem, e aparecem subúrbios da capital da Província Ocidental de Cazaquistão:



Casa novas, hipermercados, lojas de automóveis de grandes marcas... Tudo parece muito simpático e promissor.

Nem precisamos procurar este monumento, foi encontrado na avenida principal que leva ao centro da cidade da periferia norte.



Estamos no trevo: olhando agora para trás pela avenida axial norte, e a parte principal da cidade agora está a nossa esquerda. A direita apenas alguns bairros que já passamos, e atrás das costas acesso à ponte sobre rio Ural, portanto para Ásia. Mas no outro lado não há bairros residenciais, apenas aeroporto de Uralsk, portanto esta cidade ainda é europeia. 

Assim, depois de conhecer o marco divisório, vamos se manter na Europa, seguindo pela Avenida Eurásia no sentido centro. Esta avenida apresentou dois achados deslumbrantes: O Palácio de Esportes de Gelo, e a Mesquita Nova (2005).


Assim é a moderna arquitetura de Cazaquistão: mármore branco chinês no revestimento, vitrais italianos e tapetes franceses cobrindo pisos internos.

Agora estamos a procura da Mesquita Velha e da famosa Catedral Ortodoxa, o maior monumento de arquitetura de Uralsk desde a época imperial. Estas joias estão no principal eixo da parte velha da cidade - Avenida Amizade ("Проспект Дружбы" em russo ou "Проспект Достык" em cazaque). Também foi fácil de achar.



O Templo do Cristo Salvador (1891-1907), mais conhecido como "a igreja dourada" foi erguido em comemoração de 300 anos da corporação dos Cossacos de Ural como elemento da estrutura administrativa-militar do Império Russo. Na época soviética serviu como museu de ateísmo e até como planetário, e foi devolvido aos fieis da igreja russa ortodoxa em 1990.  

Por perto há dois templos de tamanho menor, mas ainda mais clássicos. 



Mesquita Vermelha (1871) e Igreja de São Nikolau (1880).

O mais antigo de todos é a Igreja de São Miguel Arcanjo (1740) nesta vez ficou fora da nossa rota intuitiva.

Mas em compensação encontramos quase todos os monumentos esculturais, bem como fontanários desta cidade:



A mais importante imagem é onde o nosso amigo Aleksandr Sergueevitch está junto com o famoso poeta Pushkin - do mesmo nome e do mesmo patronímico.

Terminal ferro viário e estádio municipal também chamaram a nossa atenção.



Bem como várias atrações menores encontradas pelo caminho. Muitos prédios bonitos deixaram de ser fotografados por se esconder em verde deslumbrante da Avenida Amizade, arborizada ainda no século XIX. Mas foi muito bom andar na sombra daqueles choupos centenários.

Já andando de carro por outras vias da cidade tiramos algumas fotos que apresentam razoavelmente bem a sua imagem atual: recheada pelos novos estabelecimentos comerciais:



Apesar da variedade de estilos, o conjunto não parecia eclético, talvez, por causa da exemplar limpeza das ruas e dos outros sinais de cuidados. 

Outros elementos memoráveis  - esculturas de animais, com predomínio de leões dourados e dos bichos de estepes e desertos em mármore branco.  



A relativa proximidade de Samara e do rio Volga foi sentida não só pela agenda cultural: o próprio Bode Branco parece que correu para cá direto do brasão de Samara.  No fim deste dia tão incomum teremos que mostrar para ele o caminho de volta. 

Os procedimentos de fronteira no retorno foram bem mais rápidos, mas mesmo assim tomaram quase meia-hora no total. Deu para perceber que a infra-estrutura dos serviços de fronteira ainda está em construção, e que os processos de recebimento e entrega de formulários podem ser mais racionais.  . 



Na segunda metade de caminho de volta entre estepes começas aparecer pequenos bosques, maioria alinhada com  notáveis rios afluentes do Volga. Mas as florestas de verdade esperam por nós só ao norte de Samara, aonde chegaremos já ao pôr do sol - quase meia noite no auge de verão por aqui.
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