A programação do segundo dia foi bem objetiva: seguimos de Ponte Alta do
Tocantins para Mateiros TO pelo caminho mais curto (162 km), mas com longas
paradas para visitação das três atrações principais: cânion, rio e dunas
(agregando mais uma dúzia de km em dois pequenos desvios e mais alguns
quilômetros de caminhadas). Assim, este percurso pela estrada de terra com
código TO-255 levou o dia inteiro: partimos às 7:30 e chagamos depois das 18
h. Aproximadamente metade dessas 10,5 horas passamos em trânsito, curtindo
belas paisagens pela janela do carro: e outra metade do tempo foi bem
distribuída entre referidas atrações, almoço que precedeu a segunda e mais
duas paradinhas na estrada mesmo - para tirar fotos das montanhas que cercaram
a estrada no trecho antes das dunas, já dentro do Parque Estadual do Jalapão.
Nesta vez a chuva começou bem mais tarde, quase às 5 horas de tarde, e não
impediu nenhum passeio ao ar livre, mas ela de novo roubou a cerejinha do nosso
bolo: não foi possível contemplar mais um pôr-do-sol muito esperado - agora do
alto das dunas de onde nós retiramos correndo.
De manhã cedo as águas que caíram do céu à noite e na madrugada já formaram
densas neblinas que começaram decolar para alimentar mais uma porção de
nuvens. Café da manhã começa às 6:30, portanto menos de uma hora depois todos
já estão prontos para deixar esta aconchegante pousada "Águas do Jalapão" para
trás.
Menos de 40 minutos de boa estrada de terra até a primeira atração do dia.
Cânion Sussuapara
Esta foi fácil: nada de estradinhas secundárias que levam aos lugares
escondidas. O próprio cânion atravessou a TO-255, portanto a parada é aqui
mesmo. Mas vista desta ponte para baixo não vale muita coisa - este acidente
topográfico está oculto pela densa vegetação. Portanto seguiremos à zona de
visitação pela trilha no meio da floresta
No final da trilha chegamos à "sala de espera" do
Cânion Sussuapara - com bancos e com painéis informativos que apresentam os mais notáveis
habitantes deste paraíso verde.
Aliás, um deles emprestou o nome para cânion: sussuapara (ou suçuapara) é uma
espécie de cervo bem comum aqui. Não temos fila neste momento e já podemos
descer a escada para o fundo da terra.
Começo foi bastante tranquilo, mas foi difícil olhar para degraus quando do
nosso lado apareceram essas formações verticais de raízes pendentes e minerais
cristalizados.
A estrada passa bem perto daqui, até foi possível ouvir o ruído de trânsito.
As paredes do cânion não são exatamente verticais, em boa parte de extensão a
inclinação é "negativa". Mas as cortinas de pingos de água foram perfeitamente
verticais. E temos que passar por elas caminhando pelo leito do pequeno rio
que corre em baixo.
A sensação é indescritível, o criador desse lugar caprichou mesmo. As pedras e
as raízes de árvores exigem sua parte da nossa atenção.
E também merecem ser contempladas sem pressa.
Subindo rio acima logo chegamos ao limite:
Esta fenda é só para água mesmo, fim da zona de visitação e retorno
obrigatório. Depois de mais uma seção de "selfie", fotos em grupos, vídeos
etc., é claro.
Muito satisfeitos estamos procurando a nossa saída debaixo deste tampão
verde.
Esta parada de 40 minutos deu muito ânimo para enfrentar próximas horas de
trânsito.
TO-255: a maior porção do dia
O tempo estava firme, a estrada já quase secou e avançamos muito bem. O
tráfego nesta estrada foi de baixa intensidade, e quase todos
veículos que seguiram no mesmo sentido ou de volta foram desse DNA: 4x4,
turbo-diesel, 7 lugares. Basicamente os "Toyota Hilux SW4"
como nossos, ou "Mitsubishi Pajero Dakar".
Depois de mais de duas horas desta marcha finalmente paramos para
alongamento das nossas estruturas ósseas e reposição de água em
garrafinhas. Aproveitei para focar em algumas partes dos horizontes
laterais:
As enigmáticas chapadas estavam bem distantes, mas na parte final do
trajeto de hoje ainda chegaremos perto de uma dessas.
Rio Novo
A
Comunidade Quilombola do Rio Novo
é um lugarejo que encontramos na estrada ao percorrer exatos 100 km do
memorável cânion (em 3,5 h incluindo aquela paradinha). Lá existe até um
camping e há dois ou três restaurantes simples, o nosso almoço foi
programado exatamente neste "Flor do Jalapão":
Podemos aproveitar também as redes na barraca em frente ao salão
principal, mas por pouco tempo e apenas a 1 km daqui paramos para
descansar para valer na "Praia do Caju":
Além das redes lá há bancos, cabines para troca de roupa e alguns pedaços de
areia nas margens do rio.
Este é o próprio Rio Novo, de água transparente e bastante caudaloso.
E este é um dos lugares onde foi possível entrar na água para relaxar. O
plano de fundo é verde deslumbrante, com muitas flores.
E os peixinhos do rio são extremamente pacíficos.
A parte central da Praia do Caju, aqui pode nadar e mergulhar no raio de uma
dúzia de metros sem grande risco de ser levado pela correnteza.
Mas é melhor ficar de molho na parte mais rasa mesmo.
Olhando para esta violência das águas com devido respeito.
Rio acima bem perto deste lugar há fortes corredeiras e mais distante aparecem
outras praias de pequeno porte.
A travessia não é recomendada e também não faz sentido: estamos bem perto da
ponte que nós levará estrada adiante.
Aliás, nesta viagem pelas estradas estaduais de Tocantins só encontramos
pontes de concreto bem seguras, independente de tipo de pavimentação em
trechos adjacentes.
Passamos no Rio Novo duas horas e meio e quase às 15 h seguimos na direção das
famosas dunas.
TO-255: o filet-mignon
Avançamos ainda mais na direção leste e logo o horizonte mudou: uma
magnífica chapada começou crescer na nossa frente. Mesmo sabendo que ainda
chegaremos bem mais perto não foi possível deixar de registrar isso:
Mas não era para perder mais de alguns segundos: a chuva já começou lá na
região do Rio Novo e ensaiava a perseguição.
Passamos por lá há algum tempo, e agora já parece bem distante. Mas a maior
parte do nosso trajeto de hoje se perdeu atrás horizonte - a envergadura do
Jalapão é fora de série.
Alguns minutos depois paramos no
mirante oficial da TO-255, demarcado com este poste com distâncias relevantes e decorado com flores de
cerrado.
Faltam 33 km até Mateiros que está lá, atrás desse Morro do Saca Trapo cujo
formato cônico chama a nossa atenção desde que surgiu no horizonte.
Verifiquei no
Google Earth que sua altitude é cerca de 680 metros, enquanto a estrada passa
perto dele na cota de 500 m, portanto há uns 180 m de proeminência
topográfica. Este morro é uma parte destacada da grande chapada chamada
Serra do Espírito Santo.
Cujo platô acende bem mais - até 800 m acima do nível do oceano,
portanto uns trezentos metros acima da planície por sua volta.
A extensão é bem grande, mas agora o nosso interesse é voltado para esta
parte, onde se escondem as Dunas do Jalapão (direção norte).
Lá no fundo, a dezenas de quilômetros daqui, termina esta grande chapada -
Serra do Espírito Santo. E de lá que parece estar vindo a chuva de hoje. A
formação mais próxima e de altura bem menor também pode ser de dunas, mas
não são aquelas que visitaremos logo a seguir. Tudo isso faz parte da área
protegida pelo
Parque Estadual do Jalapão. Ao sul da estrada se estende outra reserva natural -
Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins
E nesta direção também pode ser vistas algumas chapadas, mas muito
longe.
É meio-obrigatório registrar a nossa presença pessoal nesta paisagem.
Dunas do Jalapão
Menos de um quilômetro adiante viramos para esquerda e seguimos mais uns 5 km
pelo atalho arenoso - até o
estacionamento das Dunas do Jalapão. Aqui começa a trilha de areia que dá acesso ao tal fenômeno.
Alguns minutos de caminhada e já estamos chegando ao alvo!
Tem gente lá em cima, agora é a nossa vez de subir.
As dunas estão relativamente perto daquele vale que adentra a Serra do
Espírito Santo e foi avistado ainda da estrada TO-255. Parece que a areia
das dunas desceu de lá mesmo.
A própria estrada e o Morro do Saca Trapo agora estão meio longe, e uma nuvem
pesada já ameaça desabar sobre o nosso caminho até lá.
E aquela chuva que está nós seguindo desde o Rio Novo continua a sua marcha na
direção da ponta oeste da duna que acabamos de subir.
O conjunto das dunas é bastante largo, uns 700 metros pelo menos, e tem mais
de dois quilômetros de comprimento. Mas a sua altura não é tão diferente do
terreno ao redor, portanto essas formações não podem ser vistas de longe.
No fundo aqui podemos ver a parte mais distante da Serra do Espírito Santo, e
outra chuva pesada que já começou por lá.
E agora já não temos escapatória: daqui a pouco vai chover aqui também.
Mas ainda deu tempo para trocar a objetiva da câmara e registrar mais algumas
vistas.
Primeiras gotas da água já alcançaram o nosso local e os guias bateram
em retirada: com perigo de raios não podemos permanecer aqui.
Portanto pelo menos teremos esta foto como lembrança e o pôr-do-sol de novo fica
reservado para chuva curtir sozinha.
Estamos tomando a nossa ducha já na trilha. Depois caiu muita água mesmo e
acabamos correndo para carros. Alguns raios caíram bastante perto, e depois
na estrada fomos cercados de descargas elétricas bravas. A estradinha de
areia ficou cheia de água, mas nada de atoleiro para nossos SW4 - logo
voltamos para TO-255.
Os 32 km restantes até a Mateiros andamos bem devagar - houve muita água na
estrada e escureceu de vez antes da hora. A visibilidade com esta chuva
pesada foi sofrível.
Em Mateiros paramos na
Pousada Recanto do Jalapão
e uma hora mais tarde saímos de carro para jantar na outra parte da cidade, já
em condições de chuva fraca e armados com guarda-chuvas.
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Resumo do trajeto:
Adicionando incursões para praia e para dunas somamos 175 km de rodagem neste
dia dos quais menos de 5 foram pelo asfalto.
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Expedição "Vivências Jalapão 2021-5d", dia 1
Muita emoção para um dia só. Parabéns pelo relato inspirador e belas fotos. Só faltou mesmo o pôr do sol.
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